Wednesday, November 20, 2013

A Ironia do Projecto Europeu - Rui Tavares



Rui Tavares tem o dom de aproximar pessoas da esquerda e da direita, nestes tempo de clivagem que vivemos. Odiado por uns e outros, as principais razões para esse ódio prendem-se com o seu comportamento aquando do recente naufrágio legislativo do Bloco de Esquerda. Só que Rui Tavares não tem sido incoerente consigo mesmo, não no seu desempenho enquanto euro-deputado. Nesse aspecto Rui Tavares é das poucas vozes que dentro de portas se dedicam a escalpelizar e a pensar as questões europeias.

Este livro, lançado no final de 2012, no auge da crise económica (sem sabermos bem onde estamos na crise política) que abala a Europa, é a sua visão sobre os acontecimentos. É pena, por um lado, que não haja uma figura da direita que se lhe junte, uma voz que fosse com ele em Portugal, o que Cohn-Bendit e Verhofstadt são na Europa e que levou à edição, quase em simultâneo do seu manifesto For Europe.

Na ausência de vozes sonoras a equilibrar a orientação ideológica, fica-nos portanto a voz de Rui Tavares, historiador de profissão e, até às próximas europeias, eurodeputado de vocação. Não um eurodeputado do estilo populista, na boa onda dos Farages desta vida, mas um dos que sentem a Europa. Como historiador que sente a Europa, Tavares dá-nos neste livro aquele que pode ser um óptimo resumo do que tem sido a construção europeia, as suas virtudes e as suas falhas, tudo de uma forma acessível, com uma escrita leve na forma e cheia no conteúdo, que nos faz chegar a meio do livro sem nos apercebermos do tempo a passar, e com a percepção clara de como nos falta saber tanto do mundo em nosso redor.

Nenhuma visão, por mais bem itencionada que o seja, consegue ser desligada das visões pessoais de quem a transmite. Rui Tavares consegue no entanto que as lições de história o sejam e que as suas conclusões pessoais o pareçam, para que o leitor não se confunda. E com isso mostrar que uma escrita ideológica não tem de ser uma escrita doutrinária. Depois de ler este livro eu quero saber o que pensa o outro lado, mas do outro lado ninguém fala.

É uma leitura, em vésperas de eleições europeias, fundamental para portugueses em Portugal e no estrangeiro (lembrar que malta emigrada na UE, vota onde mora), especialmente face ao clima de desinformação que nos rodeia. A verdade é que somos emprenhados pelos ouvidos que a culpa é "de Bruxelas", mas onde começa e acaba a culpa de Bruxelas, e qual das Bruxelas falamos? Não importa o quadrante político, este livro é de leitura obrigatória!

Wednesday, November 13, 2013

The Structure of Scientific Revolutions - Thomas S. Kuhn


A primeira coisa que me apraz dizer sobre este livro é que é um livro antitético: uma leitura leve muito pesada. 

Para um livro que representou uma pedrada no charco na forma como se interpreta a evolução da ciência, lê-lo passados 50 anos não tem o mesmo sentimento de revelação. Em grande parte porque o que ele contém foi interiorizado em sucessivas gerações de cientistas e aspirantes a tal. Não há, para quem tenha tido um ensino científico, um sentimento de ruptura, antes de se rever no que ele descreve. Provavelmente porque sempre foi assim e ele se limitou a constatar o que via.

A leitura do livro pede no entanto, para ser mais dinâmica, que se tenha algum conhecimento científico, nomeadamente ao nível da física, isto porque Kuhn, antes de ser um historiador era um cientista. Essa dupla formação deu-lhe certamente uma vantagem que outros seus contemporâneos não tinham e ajudaram a que ele conseguisse o tal sentimento de criar uma empatia com quem tenha passado pelos labirintos da ciência.

Que o livro tenha perdido o seu tom de nova teoria, sendo absorvido por todos e tornando-se no paradigma da evolução científica, perdendo com essa cristalização o seu carácter refrescante é provavelmente o maior triunfo da obra. Pena que com isso tenha de se remeter para a categoria da curiosidade histórica.