Monday, August 29, 2011

O Último Catão, Matilde Asensi




 Tendo à disposição todas as peças de lego do mundo, é possível construir réplicas à escala de grandes obras arquitectónicas. No extremo, tendo infinitas peças, poderíamos reconstruí-las à escala. Outra alternativa seria recorrer a peças de lego como forma de projectar edifícios. Todas estas premissas partem do pressuposto que as peças se encaixam de forma correcta. A forma como se encaixam depende em grande parte da arte e da paciência do autor.


 O Último Catão, da escritora e jornalista espanhola Matilde Asensi, pode ser entendido como um monte onde estão todas as peças para fazer uma obra interessante, mas que não passa disso mesmo: um monte de peças sem forma.Senão vejamos: os fragmentos da Vera Cruz estão a desaparecer, com o mais recente a ser encontrado junto ao cadáver de um etíope que apresenta estranhas marcas no corpo. Para investigar essas marcas o Vaticano chama a sua mais reputada paleógrafa, responsável pelo Arquivo Secreto do mesmo estado. Com ela o chefe da Guarda Suíça e um arqueólogo egípcio, cuja função para a história é no mínimo de relevância dúbia. A acompanhá-los está sempre uma cópia da Divina Comédia que aqui assume carácter de código para as provas iniciáticas de uma seita de adoradores da Cruz, os staurofílakes.Claro que boas ideias estão longe de boa concretização. A freira parece sofrer de bipolarismo (e não daquele que enriquece uma obra) e é tão desconhecedora do mundo em seu redor que nenhum leitor com mais de, vá lá, oito anos acreditará tratar-se não só de uma pessoa real, como ainda por cima alguém galardoado com prémios internacionais pelos seus trabalhos paleográficos. Para isso muito contribuiem as descrições bastante adjectivadas, com algumas passagens a rivalizarem com edições de renome como a famosa colecção Harlequim (arriscaria dizer que estas poderiam parecer Camões por comparação, mas penso que estaria a exagerar...). Os diálogos são do mais forçado que já tive hipótese de ler, metidos quase a martelo na obra, o que se reflecte na sua qualidade. Onde alguns autores usam os diálogos para reforçar e dar camadas aos personagens, nesta obra os diálogos servem para terraplanarem e retirarem dimensão aos mesmos. Levantando um pouco o véu, a prova em que tem de se percorrer pouco menos de quarenta quilómetros em nove horas provocou-me autênticos arrepios na espinha. Fazer qualquer comparação entre a referida prova e uma maratona é como comparar os passeios que dou ao domingo num parque com o que a Rosa Mota fez em Seul... E o arqueólogo? Se alguém perceber a função dele para resolver mistérios, sinta-se à vontade para o comunicar

 Resumindo: a forma como o livro está (mal) escrito faz com que as últimas páginas pareçam agradáveis. Não está no entanto excluída a hipótese de ser por se aproximar o fim do livro! De longe o pior livro que li em quatro anos.